No dia 07 de setembro de 1822, o príncipe regente D. Pedro I declarou a
separação política entre Portugal e o Brasil-Colônia. Desde então,
comemoramos essa data como nossa independência. É costume haver
desfiles e paradas militares, onde diversos órgãos de segurança
ostentam com orgulho suas conquistas. Também as escolas participam, com
seus alunos marchando ao som de fanfarras. É uma festa cívica e com o
objetivo de lembrar a data em que o povo brasileiro conquistou a
liberdade.
Os anos passaram, o Brasil experimentou várias formas de governo,
passou por períodos duros sem nenhuma liberdade de expressão e chegou a
uma democracia onde o povo escolhe seus representantes. Os desfiles
cresceram e outros segmentos da sociedade começaram a participar desta
festa. Volto a pensar no objetivo. Povo liberto, povo sem amarras
políticas, independente e soberano. Pena que existam algumas nódoas que
tiram o brilho desta data. Uma delas é a corrupção em todos os cantos,
em especial no poder público.
Vemos diariamente na mídia notícias sobre Ministérios envoltos até o
pescoço em escândalos de todos os tipos, empresas prestadoras de
serviços faturando quantias escandalosas em todos os segmentos, desde
obras de infraestrutura, como estradas e pontes, passando por escolas e
estádios de futebol. Enfim são desvios de dinheiro público em todos os
cantos deste Brasil. As irregularidades, quando descobertas pelo
Tribunal de Contas da União, entram na fila das averiguações e no
emaranhado jurídico de um sistema feito para não dar em nada. Em
seguida, aparece outro escândalo maior e o anterior cai no
esquecimento. São escândalos que não acabam mais, mas, mesmo assim, o
Brasil cresce, aos olhos do mundo. É um crescimento maquiado, como um
grande desfile de 07 de setembro.
Muitos morrem nas portas dos hospitais, nas mãos de bandidos que
tomaram conta de todo o país, mas o desfile não pode parar. Fico
imaginando um desfile diferente, onde mostrassem os problemas que
afligem a nossa cidadania, não só as belezas dos aviões fazendo
malabarismos, soldados e estudantes com novos uniformes, marchando ao
som de bandas afinadas. Gostaria de ver um pelotão representando a
corrupção, outro a falta de segurança, mais um mostrando a situação
calamitosa das escolas e hospitais e, por fim, um grande batalhão de
verdadeiros brasileiros, como eu, gritando por justiça e mudanças que
nos deem motivos para sentir orgulho de nosso país.
Talvez, assistindo a este desfile, lá do alto dos palanques, possa
estar entre os políticos e autoridades, um grande brasileiro ou
brasileira que se lembre do real sentido desta comemoração, se
sensibilize pela demonstração de amor à pátria destes homens do povo e
tome a decisão de dar um basta nesta situação. Como diz o final do
poema “Só de sacanagem”, de Elisa Lucinda, declamado por Ana Carolina:
“É inútil, todo mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio
de Portugal. E, eu direi: Não admito! Minha esperança é imortal. E eu
repito: Ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo, mas se a
gente quiser, vai dar para mudar o final.”
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