
Quem como eu já mora nesta cidade há um bom tempo, deve estar familiarizado com as infrutíferas tentativas de transformar Araçatuba numa Estância Turística. Não tenho certeza, mas é bem provável que todas as administrações municipais que se sucederam nos últimos 25 anos tenham tentado conseguir esse status. Como sabemos, sem nenhum sucesso.
Não é de fato fácil reconhecer em Araçatuba as características necessárias que a transformem em polo de atração turística. Quem nos visita a partir da nossa rodoviária não deve ter uma impressão positiva. E descobrir que esse mesmo prédio mal cuidado é a sede do governo municipal não ajuda muito.
Desde o ponto de vista urbanístico, não se observa um planejamento definido, nem um desejo real -salvo poucas e honrosas exceções nascidas fundamentalmente a partir de iniciativas individuais - de criar espaços públicos que embelezem a cidade. Aqui, como na maioria das cidades do Brasil, priorizamos os espaços particulares - casas, condomínios, ranchos - em detrimento do espaço público, que em vez de ser de todos, parece ser de ninguém. Mas turistas visitam cidades, e não fazendas ou clubes particulares.
Em termos de belezas naturais, décadas de uma economia baseada na produção extensiva de gado seguido agora pela monocultura de cana-de-açúcar, transformaram nossa paisagem natural nisso que vemos no longo trecho da Rodovia Marechal Rondon, praticamente a partir de Bauru: um enorme oceano de pastagens e cana, com quase nada de mata nativa. Já a parte que nos toca do rio Tietê é de difícil acesso e parece não representar atrativo suficiente para trazer turistas.
É difícil enxergar uma solução a curto prazo para resolver esses problemas. Transformar a cidade mediante um plano urbanístico que priorize os espaços públicos, embora necessário, pode levar décadas e recursos que não existem, além de uma mudança de mentalidade. Recuperar o meio ambiente já tão degradado é também uma medida necessária, mas na pouco crível hipótese que venha a ser implementada os resultados começariam a aparecer apenas em décadas.
Nesse contexto, a opção de turismo científico faz um enorme sentido. Algumas cidades do mundo fazem desse tipo de turismo temático um forte chamariz.
Já mencionamos aqui o caso de Valencia, na Espanha, que possui cerca de 800 mil habitantes. A partir das últimas décadas do século 20 via sua economia decair e o número de habitantes diminuir. Entre as opções para reativar a economia, as autoridades valencianas construíram a “Ciudad de las Artes y de las Ciencias”, um belíssimo conjunto arquitetônico onde, como o nome indica, o visitante passeia entre instalações científicas e artísticas de todos os tipos.
Até 2003 (o complexo foi inaugurado em 1998) já tinham sido investidos 400 milhões de dólares. Mas o retorno foi extraordinário. Em quatro anos, só o museu de ciência tinha recebido sete milhões de visitantes.
Além disso, a cidade capitalizara 500 milhões de dólares em investimentos desde que o centro fora projetado. Foram construídos mais de 30 hotéis, cinco mil apartamentos e um shopping. Com isso, foram gerados em torno de 16 mil empregos diretos, além dos benefícios indiretos.
Todos esses números são de tirar o fôlego, e não temos a utópica pretensão de imaginar em Araçatuba algo dessa magnitude. Mas ilustra como esse tipo de projeto pode conciliar educação, cultura, turismo e dinamismo econômico.
E não é exclusividade dos países ricos. Existem experiências semelhantes em México, Colômbia ou Uruguai, países com realidades sócio-econômicas semelhantes às nossas, e vários no Brasil. Em Porto Alegre, por exemplo, uma das principais atrações turísticas é o Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Católica.
Em São Paulo, o Espaço Catavento faz parte de um roteiro de turismo científico que inclui planetários, aquários e centros ligados à USP, como a Estação Ciência. Brotas, que fica aqui pertinho, também investe em um turismo semelhante, através do projeto CEU.
Anos atrás pensamos em uma solução similar para nossa cidade, em parceria com a Unesp. O projeto arquitetônico, encomendado a um dos principais arquitetos museológicos de São Paulo, pode ser visto em nosso blog ciencia.folhadaregiao.com.br, junto com os outros centros citados neste artigo.
Um espaço como esse, parceria entre a Unesp, o poder público e a iniciativa privada, poderia dar a nosso município o atrativo diferencial para torná-lo polo turístico regional, com o concomitante incentivo à atividade econômica. Além de um espaço difusor da cultura da ciência, peça fundamental para a construção das “sociedades do conhecimento”, poderia ser o espaço para que a indústria local exibisse seu compromisso com a ciência, a tecnologia e a inovação.
Enfim, trata-se de um projeto moderno e inovador, que em cinco anos poderia estar já funcionando e transformando nossa realidade. Uma proposta concreta de educação e desenvolvimento científico e tecnológico. Um passo certo em direção ao progresso aliando educação, inovação e sustentabilidade.
Como aconteceu há 100 anos, o trem da história pode passar por aqui. Resta esperar que encontremos os novos “fundadores”.
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